segunda-feira, 22 de junho de 2009

Diploma de Jornalista

Para colocar mais lenha na fogueira. Segue nota do jornalista Marcelo Migliaccio do JB e Blogueiro. O Tema é o fim da obrigatoriedade do Diploma de Jornalista para o Exercício da profissão. E você...é a favor, dê sua opinião, comente, participe!!!


Diploma não faz de ninguém um bom jornalista. Não somos médicos nem engenheiros.

21/06/2009 - 14:00 Enviado por: Migliaccio

O Sindicato dos Jornalistas está revoltado com o fim da exigência de diploma para o exercício da profissão, determinado agora pelo Supremo Tribunal Federal. Eu achei uma ótima medida por várias razões, e a primeira delas é que a reclamação do sindicato é meramente corporativa.

Nossa profissão vai perder o status de nível superior, e isso é o fim da picada para quem gosta de se gabar de ter curso universitário. Acho que o jornalismo deve ser meramente uma habilitação técnica. Em termos salariais, não mudaria nada. Quem ganha muito continuará a ganhar muito, quem ganha pouco seguirá ganhando pouco e quem não ganha nada permanecerá com o mesmo rendimento.As faculdades de jornalismo hoje, e já quando cursei uma, não ensinam quase nada do que é necessário para o bom desempenho da função. É muita teoria que não vai servir para coisa nenhuma quando o recém-formado entrar numa redação de TV, rádio, jornal ou internet.

Marshall Mcluhan, Claude Levi Strauss (aquele que inventou o jeans, como um colega disse durante uma aula na Escola de Comunicação da UFRJ...), e tantos outros teóricos citados pelos professores muito pouco me ensinaram em relação ao que me seria exigido pela prática diária.

Saí com uma mão na frente e outra atrás da UFRJ, que na época (1982-1986) não tinha nem uma câmera de vídeo para treinarmos (os governos militares não davam a mínima para a educação e peguei a herança deles).Lamento dizer que hoje, como na minha época, os jornalistas chegam ao primeiro emprego totalmente leigos. Tanto que as principais empresas de mídia têm cursos de treinamento para ensinar aos novatos o que a faculdade não ensinou.

Outra coisa: o problema do ensino no Brasil é tão grave que a maioria dos jornalistas sequer sabe escrever direito, ordenar minimamente as idéias num texto. E isso todo mundo, jornalista ou não, deveria chegar ao vestibular já sabendo. Não acontece só com a minha categoria, mas com todas as outras. Canso de pegar textos de professores universitários cheios de erros de português.

O ensino no Brasil é uma tremenda enganação. Mal e mal, alfabetiza e olhe lá. Professores fingem que ensinam, alunos fingem que aprendem e as provas simulam aferir conhecimentos.

O jornalista é tido como aquele cara que entende um pouco de tudo e nada de nada. Verdade absoluta. Somos uns perguntadores e palpiteiros. Ouvimos o galo cantar mas não sabemos onde. Depois de algumas entrevistas, temos que ligar para especialistas no assunto para que eles traduzam o que ouvimos. Que independência é essa se somos reféns de especialistas?

Agora o ponto principal! Eu tenho, modestamente, uma sugestão:

Todos os cursos universiários deveriam passar a ter uma habilitação em jornalismo incluída em seu currículo. Assim, a faculdade de medicina formaria médicos capazes de serem jornalistas verdadeiramente especializados em saúde (sim, porque há doutores com mais talento para a comunicação do que para realizar cirurgias). A de direito, idem, já que, hoje, o jornalista que cobre polícia, por exemplo, não têm a mais pálida noção da legislação criminal. O mesmo ocorre com o repórter de política que bóia na lei eleitoral; o de economia pensa que é possível revogar a lei da oferta e da procura, e por aí vai... saneamento, assistência social, diplomacia, engenharia, meio ambiente.

Na cultura, por exemplo, o jornalista que cobre teatro irritaria muito menos atores, diretores, cenógrafos etc com perguntas descabidas ou ingênuas se tivesse cursado a faculdade de artes cênicas. Cinema, idem; e nada melhor que um curso de Letras para quem quer escrever sobre literatura.

O aluno faria seu curso superior e, se quisesse, poderia ser iniciado nas técnicas de comunicação, aquelas regras básicas para escrever um texto informativo (primeiro parágrafo dizendo quem, onde, como, quando e por quê), frases curtas e diretas para rádio e TV. Basta uma cadeira de especialização, trata-se de uma meia dúzia de conceitos, nada que justifique um curso universitário específico para formar um jornalista. Só assim, teríamos jornalistas verdadeiramente especializados e com autoridade para escrever sobre um determinado assunto.

E o melhor, repóteres poderiam continuar ostentanto aquela pose de quem tem curso superior!

Um exemplo: há alguns dias, aconteceu um desmoronamento numa pedreira desativada em Vila Isabel (Zona Norte do Rio). A avalanche atingiu as casas de um condomínio, uma pessoa morreu e três ficaram feridas. No primeiro dia, a imprensa publicou que caíram 300 toneladas de pedra.

No segundo, 75 mil toneladas. Uma pequena imprecisão... Claro, dois técnicos presentes no local fizeram as estimativas em dias diferentes. A segunda, do subsecretário da Defesa Civil, ficou valendo, mas se houvesse algum jornalista no primeiro dia com noções de geologia, até de engenharia, poderia ter contestado o calculista precipitado e tal disparidade não seria mas uma mácula na nossa profissão.

Veja bem, me incluo como alvo de todas essas críticas, pois também não entendo nada de nada.

Alguns dos melhores repórteres que já vi, ou li, nunca estiveram numa faculdade de jornalismo.

É bom lembrar que até o final dos anos 60, se não me engano, ninguém precisava de um diploma para sentar diante de uma máquina de escrever Olivetti e documentar mais um capítulo da história da Humanidade.

Poderia citar vários nomes aqui, Joel Silveira, nosso primeiro correspondente de guerra, Mário Filho... E Ruy Castro, por sua vez, já confessou que aprendeu muito mais com Paulo Francis, seu primeiro editor, do que na faculdade.

Aquela empresa de mídia que tem nome de biscoito que se come na praia disse em editorial lido pelo casal mais certinho da TV que "vai continuar buscando seus profissionais nas faculdades de jornalismo".

Pelo que eu entendi, ela não gostou da decisão do STF. Mas quando é do interesse dela, é a primeira a usar não diplomados em seus programas atuando na função de repórteres. Como o médico Drauzio Varela, que, aliás, mostrou-se um jornalista excelente sem nunca ter cursado uma faculdade de jornalismo.

Até o jornalista esportivo carece de conhecimento especializado. Quantas vezes assisto a um jogo de futebol e, no dia seguinte, quando vou ler as críticas às atuações dos jogadores fico revoltado.

Um cara que jogou bem taticamente leva nota baixa e um perna de pau que fez um gol de canela é alçado à condição de novo ídolo da nação. Os melhores analistas de futebol que já vi _ Tostão, João Saldanha e Casagrande _ nunca sentaram numa faculdade de jornalismo, mas se expressam (pretérito no caso do Saldanha) maravilhosamente, tanto em texto quanto diante de uma câmera. E, se tiverem que fazer uma entrevista, o farão sem problemas, porque perguntar é uma coisa natural até para uma criança de 2 anos.

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